Um jovem universitário, estudante de direito, numa tarde de aula, no pilotis matando a aula, assistindo TV com uma amiga. Na TV, a primeira presidenta eleita desse país respondendo às perguntas do Senado na sessão que buscava seu impeachment. Não esqueço Belo Monte, mas também não esqueço da dignidade e do compromisso com a presidência da República, a altivez com que respondia o que os senadores sequer entendiam. Já sabíamos que aqueles homens punham em prática um golpe de estado, com o Supremo, com tudo. Demorou 11 anos para as mesmas instituições conseguirem conter o golpe e iniciar o processo de colocar em seus devidos lugares os traidores, golpistas, criminosos, fascistas que são. Não deveria jamais ter demorado tanto. A menção a torturadores como referências de suas ações politicas já eram declarações explícita do intento anti-democrático em curso.
De lá pra cá, não mudaram as palavras, os atores ou os financiadores. Mudaram os alvos do punhal: sai a mulher escrachada na opinião pública, entram os homens chefes dos poderes. Nesse processo, passaram por cima dos mestres e mestras que protegiam o que o país ainda tinha de essencial. Marielle Franco, Mestre Moa do Katendê, Mãe Bernadete, Ronilson de Jesus Santos, todos os povos e comunidades que foram atacados, ameaçados, desrespeitados e envenenados (se ligue você que também é povo, brasileiro!). Nossos biomas destruídos e ecossistemas dizimados. Centenas de milhares de pessoas mortas numa crise de saúde pública que existiu como escolha dessa gente. Nossas instituições públicas corrompidas pelo projeto do racismo, do negacionismo e do extrativismo capitalista. Qualquer desses crimes deveria já ter sido julgado e seus sujeitos condenados, suas vítimas reparadas. É preciso cuidar da terra, da gente, do tempo que temos. A reforma agrária está muito atrasada. A abolição nem se fala. A proibição segue encarcerando. A cultura virou mitigação de impacto socioambiental. A matriz energética não é limpa mas paga bem, que mal tem? Falta oportunidade para a pesquisa, que é onde a criatividade e a imaginação viram tecnologia e infraestrutura. Pra ninguém ficar mais horas em transporte lotado. Modelos de comunicação democráticos não temos, que não dependam de algoritmos, anunciantes ou governantes.
Estamos no caminho. Grande dia é o que percebemos as belezas da caminhada. A condenação dos covardes que tudo isso fizeram é apenas o início da possibilidade de justiça. Que paguem por todos os crimes. Seguiremos no movimento social, para que nunca se esqueça, para que jamais aconteça.









